Odilon Redon, O Buda, 1896 |
Kyrie Eleison
quarta-feira, 27 de março de 2024
Comentários (17)
segunda-feira, 25 de março de 2024
Nocturnos 116
Nuno Cera, Snapshots 4, 1997 |
sábado, 23 de março de 2024
XII Entrelacs
quinta-feira, 21 de março de 2024
Ensaio sobre a luz (115)
Mário de Oliveira, Paisagem, 1973 (Gulbenkian) |
terça-feira, 19 de março de 2024
Simulacros e simulações (61)
Maria Helena Vieira da Silva, Ermitages (Bleu Tressé), 1971 (Gulbenkian) |
domingo, 17 de março de 2024
Beatitudes (66) Música da noite
Ernst Ludwig Kirchner, Accordion Player by Moonlight, 1924 |
sexta-feira, 15 de março de 2024
A degradação da paisagem política
Não vale a pena comentar o caos em que as decisões de Marcelo Rebelo de Sousa lançaram o país. Também não vale a pena salientar que o nosso sistema semipresidencial é um problema, devido aos poderes arbitrários dos Presidentes da República. Vale a pena, porém, olhar para o país e para aquilo que estas eleições mostram. Em primeiro lugar, o tradicional centro político (CDS, PSD e PS), embora maioritário no país, já não chega aos 60%. Em 2022, os três partidos somados ultrapassavam ligeiramente os 70%. Uma radicalização que atingiu duramente os resultados do PS, mas que também paralisou o par CDS e PSD, que, como AD, têm mais ou menos a mesma percentagem de votos que em 2022. A rasura do centro é um preocupante sinal de degradação da vida democrática.
A paisagem política mudou radicalmente com os 18% do Chega. O seu crescimento exponencial é outro dado da radicalização do país. Não apenas por ser um partido populista, mas pelo facto de conseguir atrair o eleitorado não tendo qualquer consistência discursiva ou de atitude. Se compararmos o Chega com o Vox espanhol, percebemos de imediato uma diferença significativa. O partido espanhol é altamente estruturado, tanto do ponto de vista ideológico como do comportamento das suas lideranças. O partido português chega a uma votação significativa apenas fundado nas diatribes de André Ventura, no comportamento desrespeitoso perante os adversários políticos, as instituições democráticas da República e os grandes valores do 25 de Abril. Na prática, os eleitores não fazem ideia de quais são as políticas substantivas do Chega. Mesmo assim votam nele, como se houvesse um desejo de destruição, a começar na destruição do PSD – um dos objectivos de Ventura – e a seguir da democracia tal como a entendemos.
Outro sinal da radicalização da nossa
sociedade é a erosão do Partido Comunista. É preciso compreender o papel
central que este partido tem tido no equilíbrio do sistema político. Não tanto
no jogo parlamentar, embora também aí tenha tido papel de relevo, mas no jogo
social, onde o papel do PCP nos sindicatos tem sido central para evitar
contestações anárquicas do regime e tem servido de escape aos sentimentos
negativos que podem atingir parte da população. Neste momento, existem já
movimentos de contestação inorgânicos, que não obedecem a qualquer
racionalidade política, os quais são uma ameaça para a saúde da democracia. A
erosão parlamentar do PCP e a do movimento sindical, que dificilmente será
travada, é um outro sintoma de degradação da paisagem política no momento em
que a transição à democracia faz 50 anos.
quarta-feira, 13 de março de 2024
XI En suspens
segunda-feira, 11 de março de 2024
A tal maioria sociológica de direita
Umberto Boccioni, Agitate Crwod Surrouding a High Equestrian Monument, (1908) |
sábado, 9 de março de 2024
O progresso moral da humanidade (16)
Xaime Quessada, La guerra, 1967 |
quinta-feira, 7 de março de 2024
Cadernos do esquecimento 53 Duplicar a vida
Paul Signac, Women at Well, 1892 |
terça-feira, 5 de março de 2024
Nocturnos 115
Camille Pissaro - Boulevard Montmartre - Night, 1897 |
segunda-feira, 4 de março de 2024
X Der Zauberlehrling
sábado, 2 de março de 2024
A crise das democracias liberais
A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. M. Estlund afirma “A ideia de democracia não é naturalmente plausível”. Recentemente, numa antecipação da sua biografia a sair em Outubro, o senador republicano Mitt Romney afirmava que “A experiência da América com a autogovernação está em luta contra a natureza humana”. De facto, a democracia liberal (a ideia de autogovernação) parece não estar inscrita na nossa natureza. Uma visão próxima de Kant poderá argumentar que a democracia liberal é um projecto da razão para domesticar a nossa animalidade. Não descartando a tese kantiana, prefiro uma outra, a da relação íntima entre democracia liberal e cristianismo.
O cristianismo na sua natureza mais fundamental é uma religião adversa à natureza humana. Se olharmos para outras religiões percebemos que nascem daquilo que os homens são. O cristianismo, pelo contrário, propõem uma visão moral que confronta a nossa natureza, que exige que a superemos. Uma ética fundada em dar a outra face ou em amar os inimigos está em viva contradição com a natureza humana. O cristianismo é um programa de luta contra as nossas pulsões mais vivas, como não se cansou de denunciar Nietzsche. A democracia liberal resulta do próprio cristianismo, mesmo se igrejas cristãs se lhe opuseram. As correntes políticas democráticas – conservadorismo, liberalismo e socialismo – são emanações de diversos aspectos que estavam unidos no cristianismo (a tradição, a liberdade do cristão e o livre-arbítrio, a igualdade perante Deus). A democracia herdou, da sua fonte cristã, esse aspecto contra-natura, de que falam Estlund e Romney.
As democracias modernas liberais tremem porque o cristianismo com os seus imperativos contra-natura está a evaporar-se da consciência dos homens ocidentais, mesmo daqueles (ou em primeiro lugar desses) que se dizem cristãos ortodoxos e advogam um fundamentalismo tradicionalista. A democracia liberal, com as suas regras de reconhecimento do adversário político e da admissão de que ele tem direito a governar, só é possível num mundo onde dar a outra face e amar os inimigos faça sentido e condicione as consciências, mesmo a dos não crentes. Quando isso desaparece, como está a desaparecer, quando a sociedade se converte a um neopaganismo como se está a converter, e como se converteu na Itália fascista e na Alemanha nazi, a democracia liberal perde o seu fundamento e entra na crise a que assistimos.
quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024
Eleições e segurança
O problema da segurança interna não reside em termo-nos transformado num país inseguro. A insegurança nasce do comportamento das próprias forças de segurança, do seu afrontamento ao poder político legitimamente constituído. O caso da manifestação perante o Capitólio, no dia do debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, foi o sinal decisivo de que a autoridade do Estado está a ser escavada, politicamente escavada. Também a ameaça dos militares entrarem em protestos é um inadmissível desafio à ordem constitucional e à segurança interna. Pode-se compreender que polícias e militares estejam descontentes com as suas remunerações, o que não os diferencia da restante função pública. O que não se compreende é o desafio à autoridade do Estado daqueles que têm a função de velar por ela.
Os
desenvolvimentos geopolíticos trazidos pela invasão da Ucrânia e a possível
vitória de Donald Trump nas eleições de Novembro, nos EUA, estão a pôr em causa
os fundamentos da defesa externa de Portugal, assente na NATO. O fim da NATO,
ou uma versão desta sem empenho dos EUA, tornará toda a Europa, Portugal
incluído, um alvo apetecível de potências inimigas, mesmo daquelas que estão em
silêncio, contidas pela existência da NATO. Que papel, por exemplo, seria o da
Turquia num mundo sem a NATO, a que ela pertence? Que pretensões poderia
acalentar? A questão da segurança externa, aliado à da segurança interna, é o
principal problema que o país enfrenta e não a questão das pensões, dos
salários, dos impostos. Discutir o futuro das Forças Armadas e o da afronta à
ordem pública e constitucional são assuntos vitais para o país, mas aqueles que
querem governar preferem ignorá-las, pois escaldam e não dão votos. Preferem os
jogos florais e a tômbola das promessas.
P.S. O artigo foi escrito ainda antes de Pedro Passos Coelho ter estabelecido relação entre imigração e insegurança, contribuindo desse modo para o crescimento da insegurança.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
Comentários (16)
Fernando Lemos, Coisas de Vidro, 1949 (Gulbenkian) |
domingo, 25 de fevereiro de 2024
Ensaio sobre a luz (114)
Emil Nolde, Lake Lucerne, 1931-34 |
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
IX Vertige
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Mitt Romney e o autogoverno em perigo
Francis Bacon, Man Turning on the Light, 1973-74 |
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Simulacros e simulações (60)
Fernando Azevedo, Composição, 1958 |