quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Poema 6 - Esqueço a terra, o céu, a cinza da minha aldeia


Esqueço a terra, o céu, a cinza da minha aldeia.
Esqueço os pequenos delitos da infância
e entro nos teus domínios
pela porta que abriste ao dizer o meu nome.
Tantas são as coisas que guardo:
os gestos com que chegavas,
o olhar que desbravava a selva do coração,
a palavra hesitante da tua boca.

A mais pura pobreza canta ao amanhecer,
canta se te olho na sombra da memória
ou se um pássaro voa sobre as cerejeiras,
de onde roubo cada cereja
que amanhece na alegria dos teus lábios.

Nunca a vida me convidou para os teus braços,
apenas o terror da morte cresceu
na desmesura dos campos incendiados pela tarde.
As cores formaram um arco-íris
e eu caminhei pela ponte dentro
para a margem das tuas mãos,
brancas como a alma presa nas minhas.

2 comentários:

  1. Este maravilhoso e enigmático poema mereceria ser musicado num lied de Schubert, se Schubert fosse vivo ou se tivesse sido escrito na época de Schubert. Enfim, condicionais contrafactuais a que um comentário tem liberdade de fugir. Reúna o que escreve em poesia e tente publicar, é uma pena que trechos tão belos se percam na noite dos tempos virtuais...Obrigada pela beleza que transmite.

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  2. Muito obrigado pelo comentário - tão gentil comentário - ao poema. Quanto à publicação, talvez ainda seja cedo. Mas continuo a trabalhar em alguns ciclos com vista à publicação.

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