sexta-feira, 9 de março de 2012

Forças Armadas


A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.


O general Ramalho Eanes, em entrevista à Antena 1, toca num dos aspectos mais sensíveis da área da governação, as Forças Armadas. O antigo Presidente da República sublinha que o país tem de definir se quer ter ou não Forças Armadas, e se sim para quê. A questão centra-se no problema do financiamento. O tema é dos que suscita mais ressentimento e um dos que se presta a equívocos absurdos.

Só por leviandade se pode pensar que Portugal pode viver sem Forças Armadas. Um dos argumentos contra a existência das Forças Armadas centra-se no facto de Portugal estar na União Europeia e de não possuir inimigos; mesmo as antigas pretensões anexionistas espanholas teriam passado à história. Tudo isto é verdade, mas não justifica a tese do fim das Forças Armadas.

Em primeiro lugar, a própria União Europeia está a ser atravessada por convulsões que podem conduzir à ruptura e à divisão. A partir desse momento uma nova guerra intra-europeia ou anti-europeia torna-se possível, se não mesmo provável. Vão longe os dias em que a União Europeia era um lugar de paz e estabilidade. Hoje tornou-se um palco de afirmação de pequenas potências, como a Alemanha, que ainda acalentam pretensões – ilusórias, claro – a ter uma papel decisivo na geoestratégia global.

Em segundo lugar, Portugal não tem apenas uma fronteira com Espanha. Tem uma outra com o mundo muçulmano. Neste momento são boas as relações de Portugal com o norte de África, mas não sabemos durante quanto tempo isso continuará a ser possível. Nada garante que em Marrocos ou na Argélia a situação política não se deteriore e não surjam regimes políticos extremistas que tenham pretensões de destabilizar a Península Ibérica. Há movimentos no mundo muçulmano que reivindicam a Península Ibérica como território islâmico. Hoje são minoritários, mas a História muda.

Em terceiro lugar, nada garante que as actuais relações com Espanha se mantenham. Uma desintegração da União Europeia conjugada com movimentos nacionalistas no País Basco, Catalunha e Galiza pode criar condições para que, em Castela – parece ridículo, mas a História é o que é –, despontem movimentos anexionistas e a ideia de uma grande Ibéria sob a batuta do exército espanhol.  Em História, o que é hoje verdade pode não o ser amanhã.

As Forças Armadas são uma instituição fundamental para Portugal. Para tal, é necessário que estejam integradas em sistemas de defesa colectivos, como a NATO, e que o país faça o esforço económico que isso impõe. Não brinquemos com coisas sérias, a crise não justifica todos os disparates.

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