domingo, 17 de junho de 2012

A noite

Edvard Munch - Casa en claro de luna (1895)

A noite é sempre a melhor hora. Perguntas a razão, não o devias fazer. Basta que perguntes a finalidade. Há uma altura que nenhuma razão é razão de coisa alguma, que nenhum porquê pode obter resposta. Não, a noite não me esconde a tua pele, os teus olhos cansados que, de os ver, os meus se cansaram. A noite não opera metamorfoses na tua voz e eu não oiço um anjo a cantar. Aliás, os anjos já não cantam, nunca cantaram, e os sinos que ouvíamos eram um ludíbrio que a noite nos oferecia. Para quê, então? Para pegar em mim e deixar que o veludo negro me envolva para não mais voltar.

2 comentários:

  1. Muito gostei desta micronarrativa, Jorge. Esta tua experiência está revelar-se muito interessante. Claro que a noite é sempre a melhor hora, pode não operar metamorfoses, mas que transfigura, lá isso transfigura. De noite, todas as vozes são pardas. Até as dos anjos.

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    1. Muito obrigado, Ivone. Isto de escrever estas micronarrativas e outras coisas do blogue tem uma função existencial: distrai-me daquilo que tenho o dever de fazer. É uma espécie de álibi, embora não haja juiz que acredite no álibi.

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