quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cansaço

Ricardo Baroja Nessi - Cansaço (1951)

Quando eu comecei a estudar, a única coisa que importava era o existencialismo; no final dos meus estudos, todos estavam entusiasmados com a filosofia analítica, e há vinte anos, regressaram o Kant e o Hegel. Nem os problemas do existencialismo estavam solucionados, nem os da filosofia analítica. Toda a gente estava simplesmente farta.  (Eberhard, personagem de  O Fim de Semana, de Bernhard Schlink).

O pensamento moderno, cujo núcleo central se encontra nas ideias de movimento e de mobilização, tende a ver as transformações do mundo como o resultado da iniciativa dos homens, fruto da acção de vontades esclarecidas e decididas. Mas a realidade não é assim tão simples. As coisas mudam porque as pessoas se cansam, porque já não podem mais suportar um determinado estado de coisas. No mínimo, o que se pode dizer é que toda a iniciativa se funda no cansaço gerado por aquilo que está. Como diz Eberhard, as pessoas fartam-se. Não é a indignação da injustiça ou o arrojo do inovador que são motores do mundo, mas a náusea, o absurdo da iteração, o mero cansaço. 

4 comentários:

  1. Tenho muitas razões para estar cansado e desencantado. Mas minhas limitações em Filosofia são tão evidentes que, mesmo quando tenho dificuldade em entender os textos, quando os descubro não me canso de os ler e neles descobrir, pelo menos, que também existe o bom cansaço.

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    1. Existe, claro, o bom cansaço. Mas aquilo que me parece ser mais significativo nas sociedades modernas é a ideia de cansaço sem adjectivação. As pessoas cansam-se, ponto final. Um exemplo disso, um exemplo bem significativo até pela sua frivolidade, é a moda. A moda é a resposta ao cansaço. A moda tomou conta de tudo, desde a roupa até aos filósofos que se lêem ou aos temas que são explorados nas universidades (se tivéssemos informação, descobriríamos a moda até na investigação científica). Onde está a moda está o cansaço.

      Abraço

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  2. será cansaço?ou será um pressentimento ( não lhe chamaria consciência) da impossibilidade das respostas? A vertigem da novidade é uma luta contra a certeza da efemeridade da existência, como se as pessoas acreditassem que por pensarem, vestirem, escutarem, olharem, desejarem, coisas novas pudessem escapar, não à morte, mas à inutilidade da existência individual,validando-se como indivíduos que ambicionam ser imprescindíveis.

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    1. Sim, o cansaço nasce dessa consciência da efemeridade da existência. Melhor, nasce do excesso de consciência. Esta cansa.

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