terça-feira, 28 de agosto de 2012

O enigma da violência

Arshile Gorky - Combate enigmático (1937)

Quantas vezes depois de um conflito pessoal ou social, ou mesmo de uma guerra, as partes envolvidas pressentem a inutilidade do combate e a desnecessidade de tais conflitos. Certamente, as partes que se envolvem nesse exercício têm justificações racionais para a sua posição. De facto, a razão tem esse imenso e terrível poder de a tudo justificar e de para tudo encontrar razões. Mais importante do que a razão para lidar com a violência é aquele sentimento, dado a posteriori, da inutilidade dessa violência. 

A razão é incapaz de lidar com enigmas - não foi por isso que ele tentou matar o mito? - e a violência do homem, por mais corrente que ela seja, não deixa de ser enigmática. Muitas vezes pensamos que uma educação racional é um bom caminho para obstar à irracionalidade da violência. O que não pensamos, porém, é a íntima relação que existe entre racionalidade e irracionalidade, como elas são apenas faces da mesma moeda. É esta pertença mútua da razão e da irrazão (ou desrazão) que constitui o enigma da violência. É nesse núcleo onde razão e irrazão/desrazão se pertencem mutuamente que está a fonte da violência, e é ele que torna todos os combates, lutas e conflitos em enigma.

Enigmático é aquilo que o pensamento não consegue abarcar e compreender e, por isso, apenas o sentimento tem o poder não de compreender mas de pressentir a sua extravagância e inutilidade.

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