quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O ministério da iniquidade

Giorgio de Chirico - Gladiadores y león (1927)

As graves crises sociais, como aquela que está a afligir os países da Europa do sul, são sempre terreno fértil para a especulação apocalíptica. Racionalistas, educados no espírito das Luzes, porém, sempre encontramos explicações racionais para este tipo de acontecimentos. Seja a avidez dos mercados, seja a incúria dos governantes, seja as pretensões da plebe democrática a viver acima das suas posses, tudo isso são racionalizações que facilmente encontrarão justificações no âmbito das ciências sociais e humanas, ou naquela área da teologia dogmática que tem o nome de economia.

Contudo, nunca deixa de ser para mim um mistério a existência de homens que tenham por função fazer sofrer outros homens. Como é possível que alguém tenha por vida denunciar outros pelas suas crenças políticas ou religiosas? Como é possível que alguém tenha estômago para torturar outro ser humano? Como é possível existir alguém que se proponha governar um país com o fito de destruir não apenas as expectativas dos cidadãos mas até o seu mais elementar modo de existência? 

Sim, aquilo que nós assistimos é a um exercício político do mal, desse mal que se funda na ausência de equidade e de justiça. E esse mal não deixa de ser para mim, por mais explicações científicas que lhe dêem, um mistério, o mistério da iniquidade. Mas mais misterioso que o mistério da iniquidade é o mistério daqueles que aceitam o exercício do mal, que aceitam o ministério da iniquidade. De facto, em tudo isto há qualquer coisa de perversamente teológico.

8 comentários:

  1. É gente sem um pingo de ética, de escrúpulos. Mas, sobretudo, é gente sem inteligência. Depois de ver estas últimas intervenções, confirmo que podem ser destituídos de muitas coisas mas são, sobretudo, pouco inteligentes. E, com gente pouco inteligente, você, bem melhor que eu, sabe que é do pior que há. Não percebem, não querem perceber, têm raiva a quem sabe.

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    1. Há uns que não são nada inteligentes. Há outros que sofrem de esperteza saloia. Há outros que a própria inteligência os torna estúpidos. Mas o pior é que alguns são mesmo fanáticos, extremistas. A coisa não está fácil.

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  2. Meu caro,
    Sinto-me profundamente desconfortável (eufemismo) com a actuação desta gentalha sem vergonha.
    Por isso, peço-lhe para ler o meu poste de hoje. Creio que pode servir de comentário ao seu texto.
    Um abraço

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    1. Obrigado, JRD. Já fui ler. De facto, isto não é gente.Já agora deixo aqui o link para o discurso do deputado socialista João Galamba: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=586537&tm=9&layout=122&visual=61

      Vale a pena ouvir.

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  3. Agradeço a sugestão. Só conhecia parcialmente.
    Trata-se de um libelo demolidor e impiedoso dirigido a um político "híbrido" incapaz de esboçar um simples esgar de incómodo.
    Não há dúvida que esta implacável intervenção comprova que o Vitor Gaspar é o capataz indicado para cuidar da "quinta".

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  4. Uma das coisas que procuro fazer em relação a qualquer instituição ou pessoa, com a qual interaja, é tentar visualizar a imagem mental do mundo dessa pessoa ou instituição, este exercício serve para enquadrar acções ou declarações que aparentemente pareçam desagradáveis. O horror do momento presente é que a visão do mundo de quem nos está a dizer e a fazer coisas desagradáveis, é uma visão hedionda, onde a desigualdade se suporta em dados genéticos, onde a fragilidade é sempre culposa, onde a arrogância da supremacia é sempre meritória. Creio que o ministro crato resumiu a coisa na imagem do ferrari e do mini.
    Escutar Durão Barroso naquela assembleia de clones adormecidos, é como ver um sucedâneo foleiro das assembleias da saga Star Wars. Olhar mesmo sem ouvir o rosto inexpressivo e inanimado de Vítor Gaspar é um penoso exercício de regresso permanente à expulsão sem condições de todos os paraísos.
    E no meio de toda esta Scifi, estão pessoas que vão deixando de desejar, de sonhar, de projectar, de viver. Arrastando a culpa e o castigo por crimes cometidos por outros.
    Bom Dia.

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    1. Tem toda a razão, Rita. O que está na cabeça destas pessoas é um horror inominável. Há um já nada secreto ódio às pessoas que não contam, e essas são quase todas.

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