terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Egipto em convulsão


Como se pode constatar por este artigo do Público, o Egipto parece completamente dividido e, talvez, à beira de uma guerra civil. Muitos estarão, por certo espantados, a descobrir que as primaveras árabes não passam de invernos ao mesmo tempo gélidos e efervescentes, mas, fundamentalmente, que não são nenhuma porta aberta para a liberdade. Quem imaginou que a constestação às ditaduras existentes no mundo árabe era o primeiro passo para a democracia não conhecia minimanente a realidade nem o universo ideológico onde se move a generalidade das pessoas nessa zona geográfica. 

Se a Irmandade Muçulmana e o Presidente Morsi ganhassem, como ganharam, as eleições e respeitassem as regras da democracia e os direitos das minorias e dos indivíduos, isso seria um acontecimento de espantar. O que se está a passar é apenas uma tentativa de destruição do que existe de sociedade secular no Egipto e a imposição, de forma mais ou menos encapotada, de uma teocracia política. Se o mundo cristão separou os poderes religioso e político foi porque o criador da Igreja não foi uma personagem política. Pelo contrário, traçou muito claramente a fronteira entre os dois reinos ao dizer "dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César". 

Nada disto se encontra no Islão e cada revolução existente nessa área religiosa visa apenas uma aplicação mais pura e ortodoxa do islamismo, o qual é fonte inesgotável de legitimidade política. Por muito estranho que possa parecer, a generalidade dos que agora se manifestam contra os novos poderes teriam mais liberdades civis no tempo da ditadura de Mubarak do que actualmente.

4 comentários:

  1. É de facto surpreendente. Apesar de saber que a Democracia tal como a entendemos não se exporta, salvo raríssimas excepções, confesso que alimentei algumas expectativas na Tunísia e no Egipto.
    Mas, não pode haver dúvidas que, em matéria de modernidade, os islâmicos não se integram nem se deixam integrar.
    Quando estão no Ocidente aceitam as regras do jogo dos outros, mas quando estão no seu "terreno", impõem as suas marcas de maneira implacável.

    Abraço

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    1. Bem, aceitam as regras do jogo dos outros ou aproveitam-nas para fazer proselitismo? Depois, há o caso dos atentados de Londres perpetrados por muçulmanos integrados. Há ali uma diferença enorme não apenas com o Ocidente mas mesmo com outras civilizações que se vão modernizando com convicção.

      Abraço

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  2. A realidade que conheço de perto não parece configurar nem proselitismo nem apostasia (pelo menos que se veja).
    Diria que, apesar de tudo, existem indícios de uma semi-integração dos mais jovens, mas só o tempo poderá confirmar esta ideia.
    Sem pretender estabelecer comparações, recordo que Anders Breivik é um nazi tão "integrado" como os terroristas de Londres.

    Abraço

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    1. Certamente que haverá de tudo. Penso mesmo que a maioria dos muçulmanos que vivem no Ocidente são pacíficos e não desgostam da sociedade ocidental. No entanto, muitos dos que enveredaram pelo terrorismo vieram de países ocidentais. Há também aqueles que não tendo enveredado pelo terrorismo pertencem a minorias activas que suportam ideologicamente o terrorismo islâmico. Isto não significa que os ocidentais sejam uns anjos. Não o são, nem de perto nem de longe. Mas os valores que engendrámos são os mais liberais (num sentido moral e não económico) que a humanidade criou. E isto não é aceite pelos radicais que, como o nazismo, julgam que isso é uma fraqueza, um convite para a acção com vitória certa.

      Abraço

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