terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Poema 49 - As Quatro Estações: Inverno

Edvard Munch - Invierno en Kragerö (1912)

49. As Quatro Estações: Inverno

Sonho sempre o inverno como um fruto,
a pele banhada por uma luz sublime,
pequenos cristais de gelo,
a astúcia da neve prometida no horizonte.

Depois componho a vida
e deixo crescer algumas folhas mortas
nos ramos exaustos das árvores.
Ainda não é o inverno da infância,
a proliferação de rios sob as ervas,
a chuva a gritar nas janelas cariadas.
 
O amor ao inverno é um exercício lento,
requer a simplicidade de uma longa aprendizagem,
o desvario de olhar as chamas
para sentir as águas frias da intempérie.

Sento-me neste canto da casa
e espero por quem amei.
Descaco o fruto invernoso
e uma súbita luz derrama 
perfumes de romã sobre o teu olhar.

4 comentários:

  1. E, para além da beleza do que dizes, o amor ao inverno é o mais frutuoso dos exercícios. Gosto muito das sinestesias da última estrofe.

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    1. Mesmo os dias de sol mais belos são os do inverno. Mas a minha estação preferida é o outono. Não todo, mas aquele outono que começa a entregar-se ao inverno.

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  2. Belo poema.
    As romãs descascam-se devagar, à flor do tacto.

    Abraço

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