quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Um sorriso nos lábios

Markus Luepertz - Diez cuadros sobre la sonrisa mecánica - Edipo (1985)

A posição do presidente da Câmara de Cascais e dirigente do PSD, Carlos Carreiras, sobre os comentários do secretário de Estado Carlos Moedas acerca do documento do FMI (melhor, do documento do governo encomendado ao FMI) não mostra apenas o desconforto que existe dentro do partido relativamente à destruição do país e do Estado a que estamos a assistir. Mostra uma outra coisa muito mais importante. "Eu, enquanto social-democrata, não gostei de ver um secretário de Estado de um Governo liderado pelo meu partido... e confesso que, do ponto de vista simbólico, também me chocou porque havia um sorriso nos lábios".

Parece haver no governo e nos pequenos núcleos que o apoiam um prazer enorme na vaga de sofrimento que estão a espalhar pelo país fora. Há muito que deixámos o terreno da política para entrarmos num cruel exercício de ajuste de contas com a História e de vingança contra as pessoas. Sei que sou suspeito, pois, enquanto professor do ensino público, ao qual dediquei a minha vida (uma vida vivida em função dos outros e não dos meus interesses particulares e privados), faço parte dos inimigos deste governo e sou, como todos os meus colegas, um alvo a abater. Mas julgo ter a lucidez suficiente para ser objectivo e perceber que aquilo que me parece ser maldade é mesmo maldade, um desejo incontrolável de trucidar as classes médias, de criar exércitos de proletários e de lúmpen, de fracturar a sociedade criando um nicho de gente rica e instalada e um oceano de pobres. Nota-se, neste governo, prazer em executar esta tarefa e, entusiasmados pelo sucesso que estão a alcançar, não conseguem já reprimir o sorriso nos lábios, mesmo que, por vezes, a Laura e o Pedro venham choramingar para o facebook. Esta gente é o que é, e parece que há uma fábrica para a produzir que nunca pára de trabalhar.

6 comentários:

  1. As carreiras urbanas de Cascais, têm o curioso nome de "BUSCAS". Acho que este Carreiras está -agora- a demarcar-se para não perder o autocarro das autárquicas.

    Já nem sei se são perversos ou ignorantes porque o que mais me surpreende e choca são "as figuras de romance" que o par Coelho pretende transmitir.

    Abraço

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    1. Seja qual for o motivo, quanto mais demarcações existirem no PSD melhor. Quanto ao par Coelho, que havemos nós de fazer?

      Abraço.

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  2. Absolutamente de acordo. Este sorriso desbragado vai-lhes na alma há muito tempo, mas andava escondido, na verdade nunca abandonaram o desprezo pelo outro, o mundo destas pessoas divide-se entre ricos/poderosos e pobres/invejosos, para eles todo o projecto social assente na equidade não é mais do que uma vingança de antigas sopeiras e bastardos invejosos.
    E ainda oiço alguns a chamarem corajosos a estes animais executivos, ou melhor, executantes, a Susan Sontag, afirmava que a coragem seria uma qualidade neutra e que só a coragem aliada à moral seria uma virtude, esta gente tem uma coragem doentia em destruir assim,sem aviso, nem analgésico, todo um edifício social que camainhava no sentido inverso.

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    1. Mas estes não são sequer corajosos, pois estão protegidos pelos maiorais, aqueles que são os seus verdadeiros senhores, e se as coisas se lhes correrem mal têm para onde ir, nem que seja para Paris estudar Filosofia,

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  3. Maldade ou nem isso: talvez apenas indigência intelectual, emocional, cultural.

    Mas estaremos a entrar na onda deles se esmorecermos, se nos deixarmos abater.

    Mantenha bem vivo o orgulho na sua profissão e mantenha bem vivo o orgulho em ser funcionário público, porque tem razão para isso. Não é um grupelho qualquer de gente desclassificada que há-de macular coisas que são nobres.

    Temos é que continuar a manifestar de forma bem audível o nosso desagrado, tão audível que eles se vejam forçados a fugir. Ou que o PR se veja forçado a agir.

    PS: O riso mecânico da sua imagem é sinistro mas eu hoje também só me deu para arranjar imagens destas.

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    1. Não, não são apenas indigentes, Há perversidade mesmo. E quanto menos indigentes são intelectualmente, mais perversos são. Quanto ao resto, estou de acordo consigo. Sempre o serviço público foi uma coisa honrosa e este não se resume à burocracia do Estado. Servir a comunidade num hospital, numa escola, num quartel, no palácio da Justiça. São acções boas, por muito que esta gente fanática queira perverter o sentido das coisas.

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