quarta-feira, 13 de março de 2013

Francisco, o novo Papa

Pietro di Cristoforo Vannucci - Cristo entregando de las llaves a San Pedro (1481)

É muito cedo para verificar se o nome Francisco remete para Francisco de Assis ou para Francisco Xavier, o co-fundador da Companhia de Jesus, à qual pertence ou pertenceu o novo Papa. Na televisão, há leituras demasiado político-sociais do nome escolhido. Talvez Francisco remeta para uma ideia de apostolado e de missionação (o que foi a actividade do jesuíta Francisco Xavier) e não tanto para aquilo que pensamos quando se fala em Francisco de Assis e dos franciscanos. Mas isso ainda é cedo para perceber. O que é claro é outra coisa. O novo chefe da Igreja Católica não é um europeu, mas um latino-americano. E este é um sintoma muito evidente da perda de importância geo-estratégica da Europa, mesmo do ponto de vista religioso. Marca a emancipação clara do catolicismo relativamente ao velho continente, como se a fonte de onde brota o espírito católico se tivesse transferido para outros lados. Assinala também a falta de vigor das nossas sociedades. Ao mesmo tempo que ajuda a perceber que o eurocentrismo - de que até há pouco tempo tantos se queixavam - está morto e enterrado. Há mais mundo que este velho continente à beira da falência (económica, social, demográfica e política). Os cardeais não dormem em serviço.

4 comentários:

  1. E há Francisco de Paula também ...

    Há um pormenor a que prestei atenção: creio ter ouvido o cardeal proto-diácono dizer nitidamente: "... qui sibi imposuit nomen Francisco". Não disse "Francesco".
    Eu inclino-me mais para S. Francisco Xavier, mas claro, como dizes, é cedo ainda. E tens toda a razão no que respeita à Europa. Toda a razão.

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    1. Pelo perfil comportamental no cargo de arcebispo primaz de Buenos Aires, não é de pôr de lado a referência a Francisco de Paula e mesmo a Francisco de Assis. Não sei, porém, se o cargo que agora lhe caiu em cima lhe permitirá devaneios franciscanos. Seria um verdadeiro milagre.

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  2. Da América Latina sublinho o papel do Cardeal Oscar Romero, assassinado por ter denuunciado e combatido os atropelos aos direitos humanos cometidos pela ditadura Salvadorenha e que, obviamente, jamais poderia chegar a Papa.
    Desconheço o papel do agora eleito durante a ditadura argentina, mas o que li e ouvi, a ser verdade, não é muito abonatório.

    Abraço

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    1. Li coisas contraditórias. Certamente, ao ser eleito, iria ficar nas bocas do mundo. Haverá muita contra-informação de ambos os lados, os que são contra e os que são a favor. Seja como for, é preciso não esquecer que ele é jesuíta, esses grandes mestres da gestão das aparências, e pode ter sido isso - uma gestão das aparências - que sucedeu no tempo da ditadura de Videla. Tenho grande respeito pelos jesuítas. É uma homenagem que devo por ter sido aluno - no último ano que ele deu aulas na Faculdade de Letras de Lisboa - do padre Manuel Antunes, o homem da Brotéria. Olhando para ele, era difícil ver, naquela figura já tão frágil, um grande manipulador das aparências. Era apenas alguém que parecia saber tudo.

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