sábado, 20 de abril de 2013

Revisitação do terror

Edvard Munch - The Murderer (1910)

Os recentes acontecimentos em Boston fazem retornar ao palco mundial o problema do terrorismo. A captura dos presumíveis autores dos atentados tranquiliza a população mas está longe de poder sossegar o espírito daqueles que acompanham o devir da política mundial. O terrorismo de natureza político-religiosa é o pior que poderia ter acontecido ao ocidente. O terrorismo meramente político, além de ter um prazo para além do qual cansa os próprios militantes do terror, tem ainda uma possibilidade última de ser resolvido politicamente. A introdução do elemento religioso altera drasticamente o que está em jogo. 

A justificação do terrorismo político é sempre relativa e finita, mas o terrorismo religioso possui uma justificação absoluta e sem fim para os seus crimes. Poder-se-á pensar que o terror de inspiração islâmica também tem objectivos políticos marcados pela razoabilidade. Terá, mas esta razoabilidade será sempre estratégica, será sempre um momento para novas conquistas, para novas imposições pela força, se tal lhe for permitido. Do ponto de vista da ideologia do terror, só a completa conversão do mundo ao Islão trará paz. Até lá, é legítimo matar os infiéis, ainda por cima depravados pela liberdade. Um projecto absoluto, visando a submissão absoluta, legitimado na crença que o Absoluto ordena tal projecto é um problema irresolúvel e sintoma de que nunca no mundo haverá paz.

4 comentários:

  1. O terrorismo será, porventura, a manifestação mais aberrante da bestialidade humana.
    Mas, sem querer imaginar teorias da conspiração, penso que está história não está bem contada, pelo menos para quem não é norte-americano.
    Aguardemos os "efeitos colaterais" que se vão seguir.

    Abraço

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    1. Tenho uma desconfiança muito grande não nos Islão em si-mesmo, mas nos movimentos extremistas islâmicos. Julgo que são capazes de tudo, fundamentalmente perverter o modo de vida de gente nova, como é o caso de Boston. Quanto aos EUA, julgo que não há qualquer razão para, neste caso, não serem vistos como vítimas do fanatismo ou, em última instância, vítimas da sua incapacidade de detectar o processo a tempo. Mas julgo que isso, mesmo para uma hiperpotência hipervigilante é impossível.

      Abraço

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  2. Gosto muito da forma como escreve, claríssima, reflexiva, variada. Neste ponto que refere, tendo a discordar, JCM. Este "terror" não é religioso, é político. Poderei estar enganada, não sou jornalista nem professora de história, mas antes da fundação do estado de Israel não havia este tipo de terrorismo. Obviamente que usam o escudo religioso para abrigarem o seu extremismo (ao longo da história usou-se a religião para ganhar e tomar território) mas ele residirá, a meu ver, na questão palestiniana. Foi a partir daí que os EUA, sendo aliados de Israel, passaram a estar no lado inimigo. A abater, portanto. E havia muito mais a dizer, mas não aprecio comentários longos que macem os bloguistas e este já passou das marcas, desculpe. :)

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    1. Estou de acordo consigo relativamente à importância da questão israelita. No entanto, no Islão é muito difícil a separação entre religião e política. Isto não significa que a generalidade dos muçulmanos esteja disposta a usar o terror por motivações religiosas. Significa apenas que aqueles que enveredam pelo terrorismo político têm uma motivação e uma legitimação adicionais. E essas motivação e legitimação apresentam uma natureza absoluta que, aos olhos daqueles que por elas optam, não podem ser desmentidas por qualquer consideração meramente humana. A religião tornou-se ideologia, é um facto, mas para quem opta pelo terror continua a ser, talvez de forma ainda mais sublime, religião. Um problema.

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