domingo, 25 de agosto de 2013

A transfiguração da pátria (4) A estirpe dispersa

Salvador Dali - Sombras na noite que cai (1931)

São as horas solitárias em que a noite nasce,
traça um rumor de alfazema sobre a terra
e espera que os seres adormeçam para,
entre gritos e sussurros, os devorar.

Noite ressequida, o sangue lavou os campos,
e o vento varreu para longe as folhas.
Nelas havia um segredo, a conjura do mal
sobre a fascinada servidão dos fracos.

A estirpe dispersou-se há muito, levada
pelo rufar dos cães na folhagem nocturna.
Uma cilada  de invernos abre-se a leste,
enquanto o cantar do galo anuncia um rosto,

branco e bravio, sobre o oceano de púrpura.
A noite desceu pelo rio da saudade.
Ouvem-se os pássaros em debandada
e no bronze da aldeia ecoam ainda as trindades.

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