quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A emenda e o soneto

Juan Soriano - Serpiente Negra (1974)

Sempre gostei da expressão, atribuída a Bocage,  pior a emenda que o soneto. O interessante da expressão não é o tom literário que reveste mas a referência a um princípio de queda. O que vem a seguir será pior que o que está. A atracção das pessoas e dos povos pela queda é um dos temas mais fascinantes para aquele que, tomando a posição de espectador, contempla o desvario das coisas deste mundo. Os franceses - cansados, e não sem razão, dos partidos do arco da governação - preparam-se para, nas próximas eleições europeias, depositar a sua confiança no partido da senhora Le Pen, pensando que se o soneto - isto é, a Europa e a imigração - é mau, então nada melhor que emendá-lo. E para emendar o pobre soneto há que sair da Europa e pôr os imigrantes à distância. Como se vê, a atracção pelo abismo é infinita e as pessoas gostam mesmo de pôr a cabeça na boca da serpente. Não é só por cá que o absurdo cresce.

4 comentários:

  1. Por cá (cruzes canhoto!) creio que semelhante "emenda" não será possível, até porque o soneto é tão mau que dificilmente pode ser emendado.

    Abraço

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  2. Sem dúvida. O desnorte das sociedades modernas e consumistas é geral. E é tão mais fácil arranjar uns bodes expiatórios...

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    Respostas
    1. Sim, trata-se disso mesmo, de encontrar vítimas sacrificiais para aplacar a violência da tribo. Se isto continuar, não vai ser bonito de se ver.

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