quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Transfiguração da pátria (12) Jardins da servidão

Giorgio de Chirico - Praça de Itália com torre vermelha (1943)

Desceu sobre o jardim um anjo de ferro
e as praças, perdidas na geometria, são almas
solitárias, esquecidas na mente de Deus.
Onde o fogo se ilumina e o fósforo arde,
correm crianças com sonhos desfigurados
e olhos negros abertos para o céu de azeviche.

Vejo-as de malas nas mãos no caminho da noite,
cantam como cantam os homens presos
na servidão, joio que cresce no campo do outono.
Uma lâmina brilha na câmara da morte
e os rios desaguam uma água macilenta
no mar coalhado, nos destroços das caravelas.

Perdemos o nome e a estirpe definha em silêncio.
O secreto destino revela-se na memória,
abre um sulco de sangue na planície e grita…
A devastação dos dias chegou à nossa casa.
Veio como uma lua assassinada pelo inverno
e lançou no jardim raízes de ferro em terra de fel.

4 comentários:

  1. Um poema fortíssimo que nos envolve como se o estivéssemos a ler num "Campo de refugiados ", expulsos pela História.
    Abraço

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    1. Mas não é isso que somos? Não somo já refugiados expulsos pela História?

      Abraço

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  2. Que título fantástcio, Jorge...
    (E gosto da sua poesia, nunca lho dissera antes, creio. Aqui fica.)

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