quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Transfiguração da pátria (13) A cidade de sangue

George Grosz - Metrópolis (1916-17)

O ruído que cobre a paisagem de silêncios.
A neve que se despenha de um céu em fogo.
Conto as sílabas que fazem do terror palavras
e ergo colinas de fumo no jardim do outono.

Uma espada resplandecente desce sobre mim,
punhal de seda que abre o negrume das ruas
e deixa ver o sangue cristalino jorrar
das feridas cobertas de pústulas e amargura.

Que fazer da solidão que traz o inverno preso
no ventre dilatado destes dias de cativeiro?
Que canção cantar quando atravesso a cidade
e o deserto abre as garras no meu coração?

2 comentários:

  1. Nem sitiada, nem invisível, a cidade é cada vez mais um rasgão que se esvai em silêncios e sofrimento.
    De novo terrivelmente belo, o poema.

    Abraço

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