sábado, 14 de dezembro de 2013

A pura essência da política

Jordi Pallarés - Delírio (1989)

Pensar o que se passa na Coreia do Norte (por exemplo, a execução do tio do dirigente máximo) como uma manifestação do delírio do presidente morte-coreano é falhar completamente o alvo. Na Coreia do Norte está-se perante a política no seu estado puro. A dominação é acompanhada pelo arbítrio total. Quem estiver despojado do poder - do poder supremo, note-se - é vítima potencial, pois, como aconteceu na Revolução Francesa, o fio que separa uma conduta agradável aos olhos do príncipe e a conduta suspeita é muito ténue. O terror é a essência da acção política e é isso que a Coreia do Norte, mas não só, teima em recordar ao mundo.

Quem pensar, por outro lado, que os políticos democráticos são, por natureza, diferentes de gente como Kim Jong-un está enganado. O que difere é a consciência cívica dos povos, a sua capacidade em limitar o poder através da lei e, em última análise, da própria força popular. Dir-se-á que esta visão do fenómeno político é de um pessimismo radical. É verdade. Retorno mais uma vez à intuição do filósofo francês Paul Ricoeur. O poder, seja ele qual for, é o lugar do mal; o poder absoluto é o lugar do mal absoluto. E é por isso mesmo - e não pela ilusão de que a política pode ser libertadora - que ela nunca deixa de exercer um fascínio sobre mim.

2 comentários:

  1. Na Coreia do Norte ( em todas as "Coreias") as formas que a "Politica" assume, reflectem a cultura, os costumes e até a idiossincrasia dos povos.
    Há políticos cujo poder é mais importante que a sua mente (se acaso a tiverem).

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A força da dominação resulta sempre de uma relação entre a força do príncipe e a força do povo.

      Abraço

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.