domingo, 1 de junho de 2014

Um cocktail explosivo

Max Klinger - Na pátria

Marine Le Pen está já a recentrar o debate político na questão do Estado-Nação. Numa entrevista à revista alemã Der Spiegel, afirmou que não é contra a Europa mas contra a União Europeia. Sublinhou que a União Europeia, actualmente, não é um projecto de paz mas de guerra económica (ver Expresso). Como foi possível chegar aqui? A resposta não é particularmente complexa. O fanatismo e a cegueira que tomaram conta da União Europeia impediram que os seus dirigentes dessem crédito às recusas que os cidadãos foram demonstrando ao longo do tempo. Cansados de votar em que não os ouvia, os europeus começam a escolher aqueles que parecem ter ouvidos para os seus anseios e para os seus medos. O crescimento de partidos como o da senhora Le Pen deve-se à insensata surdez dos dirigentes europeus e ao medo que cresce nas sociedades europeias. Deve-se, ainda, a uma outra coisa. O peso das identidades nacionais - pelas quais morreram milhões e milhões de pessoas em duas guerras mundiais - não se elimina só porque o dinheiro quer fluir sem barreiras. As identidades nacionais deram corpo às identidades pessoais, substituindo a identidade fornecida pela cristandade. Ora, haverá cocktail mais explosivo do que a combinação entre a surda insensatez dos dirigentes, o medo dos povos e o ataque à sua identidade, configurada na pertence a um Estado-Nação soberano? O triunfo da senhora Le Pen é o resultado dessa infeliz mistela servida todos os dias por essa União Europeia fora.

4 comentários:

  1. Salvo melhor opinião, Marine Le pen, serve-se do populismo para chegar próximo do poder (o seu eleitorado médio sabe lá o é o pós-fascismo) mas sabe que para o tomar falta-lhe muito, mesmo com o sacrifício da UE.
    Este tipo de gente acaba por se civilizar um pouco, de acordo com as circunstâncias conjunturais e o respectivo perfil (Gianfranco Fini) e integra-se na mistela que, mesmo assim, é certo que pode implodir, já que não acredito que existam condições objectivas para explodir.

    Um abraço

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    1. Não estou muito informado sobre o que se passa em Itália, mas julgo que a integração de Gianfranco Fini no sistema não ajudou muito o seu MSI, nem trouxe um especial capital para a sua agenda. É provável que Marine Le Pen, apesar de ser mais civilizada que o pai, saiba que ir para o poder com os liberais vai ser o fim dela.

      Abraço

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  2. A xenófoba e "separatista", a Lega Nord italiana apoderou-se das bandeiras da Aleeanza Nacional (MSI) de Fini, que, entretanto, se prepara para voltar ao terreno sob uma forma mais civilizada. É por isso que eu falo em implosões.
    Em França a situação é diferente mas, apesar da crise, se nos lembrarmos de que Monsieur Ébola já foi a uma segunda volta das presidenciais e depois o seu partido recuou quase à estaca zero, não sei o que vai acontecer à filha quando as eleições forem outras.

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    1. Desconfio que a filha tem outras condições que o pai não teve. O mal proveniente da globalização ainda não era tão visível. O tempo passou e as políticas aprofundaram-se, não havendo qualquer alteração de rumo. Veremos como vai a UE reagir a esta nova situação.

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