quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Conversas

Henri Fantin-Latour - Les Brodeuses

Os dias grandes declinam, preparam-se já para partir. Da rua chega uma luz calorosa e branca que ilumina as flores sobre a bancada. Sentados, extáticos, batidos pela violência dos raios solares, dois vultos conversam. Um discorrer sussurrado, quebrado por longos silêncios, os olhares presos às pequenas coisas de todos os dias. Pela mesa, um jarro de água e um copo vazio. Às vezes, a mais nova olha para o chão e cicia ‘se ao menos pudesse sair desta cadeira, desta casa, desta rua…’, e deixa frase inacabada como se a esperança pudesse entrar por ali. A outra não responde, fixa o olhar nas cortinas que cobrem o sol e cede ao peso de uma ruga que lhe cavalga a testa. Ofegante, alisa com rispidez o negro do vestido, depois inclina a cabeça, olha as mãos e ali fica debruçada sobre o buraco vazio onde outrora habitou um coração. (averomundo, 2008/06/01)

2 comentários:

  1. A solidão a dois (duas) pode existir sem diálogo e é mais dolorosa de suportar.

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Talvez os seres humanos estejam sempre sós, mas imaginam que não. Esse imaginar salvar-lhes-á a vida.

      Abraço

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.