sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O vazio religioso


As posições políticas de David Cameron e de Angela Merkel sobre a autêntica barbárie que ocorre no Iraque mostram a ameaça que nos confronta. Contudo, o devaneio islamista do Califado, pelo menos neste momento, é apenas um indício do problema. A grande ameaça para a Europa vem menos destes selváticos delírios do que daquilo que se passa entre nós.

O século XXI será religioso ou não será.  Apesar de André Malraux sempre ter negado a autoria desta frase, esta parece uma profecia concretizada. A questão religiosa, com a emergência do Islão como protagonista político global, tornou-se um elemento decisivo nas sociedades actuais. A religião é, desde que o homem é homem, omnipresente nas sociedades humanas. Mais, a religião é o foco central da estruturação das identidades colectivas e individuais, mesmo que isso seja incompreensível para muitos de nós. A questão central, tendo isto em conta, é que não há vazios religiosos por muito tempo. Se uma religião se retira, outra ou outras surgirão para ocupar o lugar vazio.

Este é o principal perigo que vive a Europa. Para além de possuir grandes comunidades imigrantes de fortes convicções religiosas – muçulmanas, principalmente – e de grande crescimento demográfico, os europeus subjectivaram a prática religiosa e, por isso, relativizaram-na. Isso permitiu estabelecer uma vida de tolerância interconfessional, mas, com o passar do tempo, implicou um grande vazio espiritual. Esse vazio, num primeiro tempo, foi ocultado pelas religiões políticas. A revivescência do paganismo com o fascismo e o nazismo e a inversão do cristianismo no socialismo e no comunismo foram ainda formas de manifestação do espírito religioso. Mortas as ideologias, ficou o vazio.

É neste vazio do cristianismo e dos seus valores que o Islão vê uma janela de oportunidade para a sua expansão no Ocidente. O crescimento de sociedades muito desiguais e a aniquilação das classes médias estão a criar condições para a formação de uma enorme massa de párias. É aqui, e na ausência de convicções cristãs fundas, que o Islão vê o enorme campo de recrutamento e de conversão dos infiéis.

Não esqueçamos três coisas. Em primeiro lugar, Bento XVI avisou que a Igreja se tornaria minoritária e perseguida. Depois, desespero, pobreza e ressentimento formam o melhor dos campos para a emergência de conversões religiosas em massa. Por fim, a história não se mede por anos ou décadas, e nunca tem fim. Em resumo, o grande problema do Ocidente não é a economia ou a política. O grande problema é o vazio religioso.

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