sábado, 27 de setembro de 2014

Um risco de penumbra

Emil Nolde - Atardecer de otoño (1924)

Um risco de penumbra desenha a noite sobre a copa verdescura das árvores. Trilhos de luz soltam-se dos faróis em desvario. Por vezes, passam casais de namorados. Olham o horizonte à procura de uma lua que lhes abençoe o destino, os leve para onde só a imaginação pode levar. Sentado diante da janela, ouço o canto das coisas que acontecem e deixo-me acontecer com elas. Voo com os pássaros, ronco com os motores, tremo se as árvores são batidas pela brisa da tarde, enamoro-me quando avisto a melancólica dança de Eros, endureço se o calcário da serra me entra pelos olhos. Ainda não chegaram as estrelas. Aspiro a tarde que se vai e sou a sombra que anoitece nela, o risco de penumbra que desce sobre a terra. (averomundo, 2008/05/24, revisto)

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