segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Um sono colonial

Claude Joseph Vernet - Harbor Scene

Vibram as folhas das palmeiras como se vivêssemos num mundo colonial, mas faltam as águas do oceano e o calor que animava as gentes quando, nesses antigos ultramares, desciam as extensas alamedas a caminho do mar. Aí a vida parecia ter uma cor que só os grandes leitores de romances imaginariam. Tudo é mais baço nesta hora e neste lugar. As avenidas são sintomas de uma vida magoada, restos de feridas cobertas de pústulas. Um aroma amargo desprende-se das casas pelas janelas quebradas, por onde se avistam as flores; o tempo as secou. Quando me sento e olho, de olhos cerrados, as ruas, vejo as bandeiras arvoradas nos barcos que passam suspensos pela indiferença dos mastros. Nas velas, pressinto o azul fremente das águas batidas pelo sol e, enquanto os vultos vêm e vão presos à sua dor, adormeço no império marítimo da minha solidão. (averomundo, 2008/05/25, Revisto)

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