quarta-feira, 8 de julho de 2015

Erguer e derrubar muros

Muro de Berlim

O parlamento húngaro aprovou a construção de um muro, na fronteira com a Sérvia, com 175 km, para travar imigrantes (aqui). Um muro, mais um. Envelhecer é, em alguns aspectos, uma dádiva. Poupa-nos à indignação e ao entusiasmo. Eu sei que há coisas indignas, e que me causam asco, e sei que há coisas vibrantes, a que atribuo valor. Mas a idade torna todas essas coisas um pouco risíveis. Lembram-se, os que têm idade para isso, do entusiasmo com a queda do Muro de Berlim? Uma euforia generalizada. Não haveria mais muros no mundo, patati... patatá... Na verdade, esses entusiasmos são inúteis, bem como as indignações. Há um muro que cai mas, com a idade, sabemos que outro se erguerá num qualquer lado. Um triunfo das nossas ideias num sítio será, mais cedo ou mais tarde, acompanhado por uma derrota noutro. O avanço da idade traz a perda da energia, mas também traz a sabedoria com que descobrimos que entusiasmos e indignações são um fútil consumo dessa mesma energia. Hoje os húngaros erguem um muro, para que amanhã seja derrubado. E, enquanto se erguem e se derrubam muros, os homens andam ocupados. Na verdade, a nossa espécie é incorrigível e o melhor mesmo é que ela se entregue a uma contumaz austeridade energética. 

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