sábado, 26 de setembro de 2015

Autonomia da comunicação social

Antoni Guansé Brea - TV (1980)

Joaquim Vieira, Presidente do Observatório da Imprensa, escreve no Público um artigo onde responde à questão «A Comunicação Social deixa transparecer alguma orientação partidária?» A resposta que dá resume-se nisto: «Os media preocupam-se sobretudo em perpetuar o statu quo político e estão pouco ou nada abertos à alternativa e à mudança.» Este problema de isenção – Vieira recorda que «isenção total, 100% pura, não existe» – é, contudo, um problema secundário e derivado de um outro mais grave.

Que problema é esse? Trata-se da incapacidade do jornalismo – seja de que tipo de media for –  se distanciar das narrativas sociais e assumir uma posição autónoma perante os discursos em vigor na sociedade. Para alguém que tem uma formação em filosofia chega a ser confrangedor escutar os noticiários ou ler a imprensa. As notícias não são relatos factuais mas meras interpretações desses factos. Isso não deixa de ser uma inevitabilidade. O que é preocupante, porém, é que os jornalistas não tenham a mínima capacidade para perceber isso e, mesmo quando pretendem ser isentos politicamente, não deixam de veicular um certo discurso social como se ele fosse a verdade.

Quando se pede isenção política aos jornalistas está-se apenas a pedir que eles observem as regas mínimas da decência política numa sociedade democrática. Esta isenção, porém, só seria possível se os jornalistas tivessem uma capacidade crítica dos discursos sociais que correm na sociedade. Manifestamente não o têm. Não o têm porque, nos dias de hoje, a comunicação social não é apenas o veículo mas a fábrica onde se produzem os discursos sociais, os quais, sublinhe-se, não passam de fábulas sobre os factos. Para que os jornalistas fossem, efectivamente, autónomos, eles teriam de deixar de ser jornalistas e tornar-se outra coisa. Teriam de passar de veiculadores e produtores de opinião e assumir uma prática crítica e  autocrítica dos discursos. Manifestamente, não parecem minimamente talhados para a aventura.

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