segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Acção livre

Filippo Tommaso Marinetti - Action (1915-16)

A partir do Renascimento a natureza activa dos homens tornou-se uma obsessão. Primeiro, na Europa; depois, um pouco por todo o lado. Não é que anteriormente os homens não se entregassem à acção, mas davam-lhe um lugar subalterno perante as diversas formas de contemplação. Este endeusamento da acção - do carácter activo e transformador do homem, endeusado pelas ideologias do liberalismo e do socialismo - acabou por amalgamar num único conceito aquilo que é estruturalmente diferenciado. É diferente a acção que é praticada como resposta a uma necessidade puramente fisiológica (agir para comer ou para satisfazer as pulsões sexuais) daquela que é praticada para a realização de um projecto onde se vise obter alguma coisa de exterior (enriquecer, reconhecimento da comunidade, etc.). Diferente destas é a acção onde o agente se testa a si mesmo, onde procura afirmar e fortalecer a sua vontade. Por fim, a forma suprema de acção é aquela em que o agente não tem qualquer finalidade, não espera qualquer fruto da acção e não se liga aquilo que dela pode provir. O que distingue os três primeiros tipos de acção é a causa final, a finalidade que move o agente. A última é marcada pela ausência de causa final. Só ela é, na verdade, uma acção livre.

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