quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O perigo de jogar Xadrez

Lucas van Leyden - The Game of Chess (1508)

Afinal o Xadrez é uma coisa perigosíssima para a alma e nalguns sítios ainda mais para o corpo. Esta estapafúrdia fatwa (decreto religioso) do grande mufti da Arábia Saudita, xeque Abdulaziz al-Sheikh, contra o jogo de Xadrez, estabelece um ponto de união entre sunitas e xiitas, pois também o líder dos xiitas iraquinos, Ali al-Sistani, considera que é proibido jogar Xadrez. A atitude espontânea de um ocidental é sorrir e não levar a sério este tipo de coisas. Elas são contudo reveladoras da incomensurabilidade entre o Islão e o Ocidente.  É insuportável para um ocidental que alguém regule a sua vida, como se ele não possuísse livre-arbítrio e, na prática, estivesse eternamente na menoridade. 

O que está em jogo no conflito de valores entre o Ocidente e o Islão é só uma coisa: a liberdade do indivíduo. A possibilidade de cada um fazer o que quer da sua vida, desde que isso não afronte os direitos dos outros. Se há uma coisa que devemos, ainda hoje, ao Iluminismo, e a qual devemos lutar por conservar, é a saída da menoridade, o direito de governar a nossa vida como muito bem entendermos, sem ter de prestar contas a ninguém. Proibir o jogo de Xadrez não é uma mera anedota. É o sinal de uma cultura que, quem ama a liberdade, deve considerar intolerável. E não, não sou etnocêntrico. A liberdade que quero para mim, admito - e desejo - que seja querida por qualquer outro, seja ocidental, muçulmano, taoista ou hindu. Há valores que são superiores a outros, aqueles que podem ser partilhados por qualquer um.

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