terça-feira, 12 de abril de 2016

Compreender o terror

Meyer Schapiro - War Allegory (1940)

A minha crónica da semana passada no Jornal Torrejano on-line.

A grande tentação, nestes dias de temor, tremor e terror, é compreender o que se passa no mundo através de ideias que tiveram a sua utilidade num tempo que já acabou. A entrada na cena política mundial do islamismo radical veio pulverizar a teoria, em voga na esquerda e também na direita, de que todos os conflitos radicam em problemas económicos. Esta explicação, popularizada por um certo marxismo, sempre sofreu de claras limitações, as quais agora se mostram impotentes para explicar o motivo pelo qual há pessoas que matam e se matam para impor um conjunto de crenças religiosas e uma forma de vida que nos escandaliza. 

Como em todos os conflitos, também naquele que vivemos, os factores económicos são importantes. São decisivos estrategicamente, mas não como causa final que determina o conflito. São importantes, pois podem ser decisivos para uma estratégia vitoriosa. Pensar, porém, que os grupos radicais combatem por causa do petróleo ou da economia é deixar-se enredar nos próprios preconceitos e recusar-se a olhar para a realidade. Por que motivo se resiste a aceitar que se está perante um conflito cultural e não económico? Um dos motivos deve-se ao hábito. Não estamos habituados a interpretar as guerras desse modo. Outro está ligado à posição política dos pensadores que defenderam que, no século XXI, os conflitos seriam culturais (o anti-semita polaco Feliks Koneczny) ou choques civilizacionais (o conservador norte-americano Samuel Huntington). A posição ideológica destes autores faz com que se rejeitem em bloco as suas teses em vez de analisar a sua consistência.

A teoria da causa económica dos conflitos não consegue explicar por que razão o Estado Islâmico toma decisões anti-económicas, como destruir o legado arqueológico da humanidade. Também não é possível compreender a motivação económica na atitude dos bombistas-suicidas ou no tratamento das mulheres pelos combatentes do Daesh. Todos estas actos obedecem a um sistema de crenças e os seus autores lutam pela imposição dessas crenças. Se olharmos com atenção para a história da humanidade talvez descubramos que nunca os homens combateram por questões económicas. Mesmo quando, em aparência, era esse o motivo, eles combatiam por aquilo que os bens materiais lhes poderiam proporcionar, isto é, pela representação que eles faziam da vida e do seu destino. Combatiam por ideias e crenças. Se quisermos perceber o que se está a passar, temos de compreender o sistema de crenças e de ideias daqueles que insistem em espalhar o terror pelo mundo.

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