quinta-feira, 26 de maio de 2016

O cartaz da JSD


Este cartaz da JSD suscitou uma indignação moral - aqui e ali - e levou mesmo Mário Nogueira ameaçar processar (ou a processar mesmo) a JSD. Eu votei na coligação de esquerda, não estou de acordo com alguns aspectos importantes da política educativa da esquerda (embora concorde com o governo no casos dos subsídios aos colégios privados) e acho que o facto de Mário Nogueira ameaçar processar a JSD é uma patetice. Seja como for, Mário Nogueira teve uma excelente oportunidade, mesmo sem cortar o bigode, de demonstrar que não é um adepto estalinista e que acha a comparação ofensiva. Em vez de processar a JSD, deve agradecer-lhe a oportunidade.

Do ponto de vista da eficácia política, o cartaz vale zero. É quase tão mau quanto o do BE sobre a dupla paternidade de Cristo (embora este fosse pior, pois era um tiro no pé). A generalidade das pessoas está-se nas tintas para o Mário Nogueira, muita gente não faz ideia quem foi Estaline e quem sabe tem discernimento suficiente para perceber que Mário Nogueira não é um proto-Estaline nem o ministro da educação é assim manipulável. Mesmo os anti-comunistas sabem que a ameaça bolchevique é uma coisa da história. O cartaz, porém, é bastante interessante pois diz muito do que são as juventudes partidárias. O cartaz não foi feito para ganhar eleitores (quem vai votar na direita por causa daquele cartaz?). O cartaz foi feito para irritar o outro lado. O espírito é igual ao das picardias de futebol entre os adeptos dos grandes clubes. Uma infantilidade. Uma graçola que deve gerar umas larachas lá na sede da congregação, mas sem qualquer relevo político.

O mais importante, porém, é sublinhar que a possibilidade deste tipo de graçolas virem a lume é um bem fundamental. Faz parte da liberdade de expressão. E este é, na vida em sociedade, o bem mais importante. O que me aborrece nestas coisas é que as partes atingidas (agora foi a esquerda, outras vezes é a direita) não têm fair-play e mostram-se sempre muito ofendidas, prontas para rasgar as vestes em público. Não há paciência para isso. Quem está na vida pública está sujeito a este tipo de coisas. Na política não há lugar para virgens que se ofendam ao primeiro piropo rasca. Depois, sabemos que o discurso político é sempre hiperbólico. A hipérbole é, num regime onde o conflito político se trava pelo discurso, a estratégia fundamental. Exageram-se os vícios dos adversários. Exageram-se as virtudes próprias. Acima de tudo, a liberdade de expressão é um bem intocável.

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