sexta-feira, 22 de julho de 2016

Aprender com a Selecção de futebol

A minha crónica quinzenal no Jornal Torrejano.

Depois dos dias de euforia, vale a pena olhar para o triunfo de Portugal no Europeu de futebol. Esta vitória traz consigo um conjunto de ensinamentos que vale a pena meditar. Comecemos com algumas questões menos agradáveis. Portugal tinha o melhor grupo de jogadores do Europeu? Não, não tinha. Portugal foi a selecção que praticou o melhor futebol? A resposta terá de ser negativa, pois o futebol dos portugueses esteve longe de ser espectacular. E, no entanto, não se pode dizer que Portugal foi um vencedor injusto ou que o foi apenas por sorte. Não vou falar de futebol, mas da atitude que esta selecção ostentou e que a levou ao êxito.

Em primeiro lugar, o princípio de realidade. Fernando Santos teve a perspicácia de adaptar, sem qualquer deriva utópica, o futebol praticado aos jogadores de que dispunha. Com uma ou outra excepção, os futebolistas portugueses eram bons, mas não excepcionais. O futebol escolhido foi um reconhecimento das nossas carências e uma adaptação criativa a essas carências. Inventou-se o possível em vez de se naufragar no impossível. De seguida, o seleccionador criou uma verdadeira equipa. Conseguiu que o todo, tocado pela interajuda, fosse muito mais que a mera soma das partes. Esses espírito de equipa foi fundamental para o êxito. Depois, foi definido um objectivo em que os envolvidos acreditaram. A fé – e não importa se é religiosa ou laica – é fundamental. Ninguém triunfa se não tem fé na possibilidade de triunfar. Em quarto lugar, a humildade de todos. Foi essa humildade que alimentou a persistência, mesmo quando as coisas correram mal, como na fase de grupos. Por fim, a assertividade. Apesar de realista e de humilde, Fernando Santos disse sempre e com clareza ao que vinha.

Agora que os festejos, depois da entrega das comendas pelo Presidente da República, começam a esmorecer, seria bom que os portugueses olhassem objectivamente para o triunfo da sua selecção de futebol e compreendessem o conjunto de virtudes (e não me refiro às virtudes técnico-tácticas, das quais pouco percebo) que, sob o comando de Fernando Santos, Portugal ostentou. Se cada empresa, se cada escola, se cada instituição pública, se cada um de nós estiver disposto a aprender com a selecção de futebol, podemos esperar que Portugal ultrapasse, de uma vez por todas, o pântano da mediocridade onde se afunda há muito. O problema de Portugal não é tanto um problema de recursos, mas de atitude. O país bem pode aprender com a selecção de Fernando Santos.

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