Emil Nolde - El escarnio de Cristo
Duas paixões consomem os actores sociais e políticos no mundo
ocidental. A paixão pela liberdade e a paixão pela igualdade. A confrontação –
por vezes, violenta – que entre elas ocorre deve-se ao facto de possuírem uma
raiz cultural comum, que a vida social cindiu, mas que as alimenta, as incendeia e, secretamente, as mantém
vivas. Essa raiz é o cristianismo. Não apenas o cristianismo emergiu como um
projecto de libertação de uma condição humana vergada às cadeias do próprio
desejo, como também trouxe com ele o rastilho que ateou a paixão da
igualdade. Cristo não é como um imperador que, para se diferenciar, se proclama
deus. Cristo, na economia da religião cristã, é Deus que se torna homem, que se
torna mais um entre os homens, um igual. E esse homem em que encarna pertence à
grande massa anónima dos homens, os quais são agora compreendidos como irmãos, como iguais entre iguais. A paixão pela igualdade – assim como a paixão pela
liberdade – não é um elemento estranho à nossa cultura. Ela tem a sua raiz no
que há mais fundo na cultura ocidental.
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