quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Caçar pokémons


A linguagem é uma coisa terrível. Muitas vezes mais valia não a usar. O primeiro-ministro, perante o desespero da oposição com um putativo resgate (que ela, diga-se, espera com beato ardor), achou por bem apresentar o extraordinário argumento mais vale dedicar-se à caça de pokémons do que esperar encontrar o diabo (o diabo do resgate, leia-se). Não vou já argumentar sobre a necessidade de manter alguma gravitas no exercício da política, nem sobre o dever de respeitar o papel da oposição, por muito que esta diga coisas que parecem absurdas a quem está no poder. Este é um dos papéis que a democracia atribui às oposições. Interessa-me outra coisa.

Interessa-me o universo que se oculta nesta ideia de caçar pokémons. E o universo que se oculta é o das graçolas da pós-adolescência, o universo das jotas partidárias, onde, à falta de formação e de informação, abunda, para além de vontade de trepar no aparelho do partido, a tendência para fustigar os adversários com pilhérias que só esses pós-adolescentes acham graça. Estes gracejos são um ritual que reforça a coesão do grupo e serve para, através da risota, evitar o drama da dúvida. O caso actual é apenas um exemplo. Passos Coelho, apesar do ar engravatado que coloca, não é melhor. Toda esta gente que domina os aparelhos partidários fez a sua escola política no mundo da pilhéria barata, do riso fácil, da piadola sem gosto. Na verdade, o universo de todos eles foi e continua a ser o dos pokémons. Sair da adolescência é uma tarefa hercúlea. Ou então eu estou a ficar demasiado velho para me rir.

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