A minha crónica no Jornal Torrejano.
No passado domingo, nas eleições em Mecklemburg-Pomerânia Ocidental, um
dos estados federados da Alemanha, o partido populista Alternativa para a Alemanha ficou em segundo lugar à frente da CDU
da senhora Merkel. Na segunda-feira, manifestações de camionistas e deagricultores bloquearam uma auto-estrada junto a Calais (França). O que têm em
comum estes dois acontecimentos tão diferentes? O problema dos refugiados.
Merkel está a pagar eleitoralmente por ter aberto as portas aos refugiados da
guerra da Síria. Em Calais, onde existe um campo com milhares de migrantes que
querem ir para Inglaterra (que não os aceita), os habitantes locais, que já
deram uma vitória histórica à Frente Nacional, queixam-se da insegurança trazida
pelo referido campo.
Podemos dizer que, tendencialmente, os alemães são racistas e os
franceses chauvinistas. Isto pode tranquilizar algumas consciências. No
entanto, oculta a complexidade do problema. E o problema é que estas migrações
– sejam económicas ou resultado da guerra – têm um impacto negativo – sentido,
muitas vezes, como extremamente negativo – na vida de muitas populações dos
países ocidentais. As elites políticas tradicionais recusam-se, ou estão
impotentes, a ouvir as suas populações. Estas deslocam então os seus votos para
as organizações xenófobas e nacionalistas.
Há problemas que não têm resolução ou não têm uma resolução minimamente
aceitável. No actual quadro, para além da retórica da integração e da expressão
das boas intenções, parece haver apenas dois cenários. Os fluxos migratórios
continuam em direcção à Europa, alterando, radical e desordenadamente, a sua
paisagem cultural e civilizacional. Em alternativa, esses fluxos são parados
pela violência, como resultado da subida ao poder de partidos nacionalistas. Seria
desejável a existência de outras alternativas, mas não se vêem no horizonte.
Uma coisa parece, porém, certa: a Europa tal como a conhecemos está a ruir e a
ruir no centro. Estes fenómenos – o de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e o de
Calais – são apenas pequenos aluimentos, mas parecem pronunciar uma grande
derrocada.
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