quarta-feira, 9 de novembro de 2016

American dream

Francis Bacon - Figures in a Garden (1936)

A eleição de Donald Trump tem pelo menos uma virtude. Mostra a natureza do fenómeno político. E a política tem como única finalidade a conquista do poder. Por muito que os corações benevolentes achem que a política é o lugar onde se trabalha para o bem comum, a realidade nunca se ajustou a tal benevolência. E para conquistar o poder vale tudo desde que esse tudo sirva para o fim em questão e não o ponha em causa. A vitória de Trump veio sublinhar isso mesmo.

Por norma, os candidatos põem a máscara de pessoas civilizadas e de verdadeiros cavalheiros ou damas, de uma irrepreensibilidade moral acima de qualquer suspeita. O eleitorado tem tendência para premiar esse tipo de conto de fadas. Donald Trump decidiu pôr a nu a realidade e mostrou que a política não é para cavalheiros, não é uma espécie de jogo que se disputa com fair-play. E quanto mais quebrava as regras implícitas do fair-play político mais entrava nos corações ressentidos com o mundo e a ordem moral e social deste.

A elite política e cultural não percebeu que as pessoas se cansaram de contos de fadas e, nos dias que correm, não valorizam as virtudes da gentlemanship. Aos velhos contos de fadas preferem a grande narrativa do american dream. Este é uma ilusão, claro, mas uma ilusão que não é feita de gentileza nem de fair-play. Corações irados não querem amabilidades, mas um justiceiro que seja decidido, sarcástico e rápido no manuseamento das pistolas. E foram estes corações irados com a evolução do mundo e ressentidos com as elites que abriram caminho para que Donald Trump viesse recordar o que é a política, uma dura luta, onde vale tudo, pela conquista do poder.

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