sexta-feira, 13 de outubro de 2017

É tempo


Nos acontecimentos de Pedrógão Grande revelou-se, da forma mais cruel, uma das grandes limitações da actual solução governativa. Não me refiro à inépcia de um ou outro ministro. Aludo a um dos pontos trazidos à colação pelo relatório da Comissão Independente e que se pode sintetizar na frase citada pelo Público: A instabilidade ocasional provocada pelos ciclos políticos atribuem a esta função [Protecção Civil] desempenhos fortuitos, o que pode gerar (tem gerado), em alguns casos, situações com graves consequências.

Como todos sabemos, os partidos do arco da governação entretêm-se, quando trocam a oposição pelo poder, a substituir por gente sua a gente dos outros. O PS, não sendo o único, tem uma longa tradição neste tipo de distribuição de empregos pela rapaziada. Ora é incompreensível que o BE e o PCP, para além das questões económicas, não tenham tido como um dos pontos centrais do acordo de governo acabar com a situação. Isto não apenas corrói a vida democrática como pode ter efeitos terríveis, como se está a ver. A vida política não pode girar apenas em torno de devoluções de rendimentos.

Se os partidos que têm estado fora da governação – PCP e BE – são impotentes ou não querem, nesta conjuntura propícia, impor um conjunto de reformas que possam acabar com algumas doenças da vida democrática, tantas vezes por eles denunciadas, isso significará que o país continuará a assistir, legislativa após legislativa, a esta troca de lugares, enquanto as instituições se degradam e as pessoas morrem. O PCP e o BE podem ter, neste momento negro da vida democrática (sim, a história de Pedrógão Grande é um momento de grande dor da vida colectiva e uma mancha negríssima e persistente no governo), um papel decisivo em pôr fim a este tipo de manigâncias, nas quais o PS é um dos grandes especialistas. Os eleitores ficariam agradecidos.

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