sábado, 14 de outubro de 2017

Voto de silêncio

Max Ernst - The Eye of Silence (1943-44)

O mais curioso, quando se escreve sobre política, é a forma como, muitas vezes, os textos são recebidos. Sinto – o que significa que não é um conhecimento mas um pressentimento – que são tomados como afirmações dogmáticas. Quero dizer: exercícios de fé, a partir dos quais se proclama uma crença. Isto condiciona, por certo, a presumida reacção de alguns leitores. Os que partilham a fé que julgam ser a minha e os que não partilham a fé que me atribuem, sendo devotos, assumidos, de outros deuses. Ora se há uma coisa que marca a minha existência é a falta de fé em tudo o que é humano, demasiado humano. E não há coisa mais humana do que opiniões políticas, mesmo, ou principalmente, as que aparentam ser as minhas. Quando uma pessoa precisa de ter uma grande fé, o melhor, para não incomodar terceiros, é entrar para um convento. E mesmo que não seja casto nem pobre, deve sempre cumprir o voto de silêncio.

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