Antoni Guansé Brea, Nocturne, 1992 |
Kyrie Eleison
quinta-feira, 18 de abril de 2024
Nocturnos 117
terça-feira, 16 de abril de 2024
Comentários (18)
João Queiroz, sem título, 2004 |
domingo, 14 de abril de 2024
Beatitudes (67) Vida mediana
Edward Arning, Aufnahmen von Dr. Ed. Arning in Hamburg, 1901 |
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Ensaio sobre a luz (116)
Mário de Oliveira, Paisagem de Castela III, 1966 (Gulbenkian) |
quarta-feira, 10 de abril de 2024
XIV Coloana infinita
William Turner, Sun Rising Through Vapor, Fisherman Cleaning and Selling Fish, 1807 |
se o sol entre nuvens já desponta
espelho onde todos se remiram
cansada esvoaça a ave tonta
pois da árvore a frágil casa
tiram
tudo é pequeno e sem fim
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Simulacros e simulações (62)
Fernando Calhau, sem título #481, 1980 (Gulbenkian) |
sábado, 6 de abril de 2024
As eleições e o triunfo do pensamento mágico
Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. Têm sido adiantadas múltiplas explicações. Por norma, baseadas na suposta má conduta dos partidos do sistema (sic), o que teria gerado uma onda de insatisfação no eleitorado. A questão é mais funda. Que respostas têm estado disponíveis, do ponto de vista político, para a pergunta: como posso viver melhor? Por um lado, a resposta da esquerda tradicional: a luta colectiva, a solidariedade entre pessoas, gerará para cada uma essa vida melhor. Por outro, a da direita democrática tradicional: és livre, aposta em ti, a vida melhor depende do teu mérito. As duas respostas estão assentes na acção e no esforço.
A votação no Chega é a derrota destas duas respostas. Os insatisfeitos não apreciam o esforço das lutas colectivas, nem reconhecem que a sua situação esteja ligada ao seu mérito ou à falta dele. Crêem que a sua situação se deve aos políticos tradicionais, que são diabolizados. Está-se já no campo do pensamento mágico. A solução da minha insatisfação está, não no esforço colectivo ou individual, mas em alguém, o líder carismático, que virá salvar-me da situação em que me encontro. A partir da crença num líder salvador, o pensamento mágico reforça-se no encantamento dos slogans simplistas (Limpar Portugal), na negação da realidade – isto é, dos factos que negam a narrativa do líder – e no desenvolvimento de expectativas irreais de que problemas altamente complexos se podem resolver facilmente, bastando as palavras mágicas do salvador.
Os partidos tradicionais irão ter
muita dificuldade em lidar com a nova situação. O pensamento mágico
dificilmente é derrotado pelo discurso sensato e pela acção razoável. Os
problemas que enfrentamos exigem esforço e racionalidade, coisa para a qual
parte do eleitorado não está disponível. O pensamento mágico não exige esforço nem
reflexão, vive de emoções, alimenta-se de mitos e slogans, propaga-se
por contágio, como uma epidemia. Havendo uma liderança carismática, por norma,
o pensamento mágico tende a aumentar e só perde força depois de uma desgraça. São
tantos os exemplos – vindos da direita e da esquerda – em que o pensamento
mágico dos cidadãos conduziu a uma tragédia que nem vale a pena enumerá-los. A
democracia liberal, aquela que em Portugal nasceu há 50 anos, está perante um
grande e grave problema.
quinta-feira, 4 de abril de 2024
A persistência da memória (29)
Theodor and Oskar Hofmeister, Am Feuerherd - Vierlande, 1903 |
terça-feira, 2 de abril de 2024
O ocaso do espírito liberal
Assistimos a uma grave crise do espírito liberal. É de temer a sua morte. Podemos esboçar um retrato do espírito liberal com cinco características. Em primeiro lugar, a liberdade individual de cada um agir segundo a sua consciência, desde que isso não interfira na liberdade dos outros. Em segundo lugar, a igualdade de direitos, independentemente de qualquer característica diferenciadora (raça, sexo, religião, etc.). Uma outra característica é a tolerância, o propósito de respeitar as diferenças, sejam elas de crenças ou de comportamentos. Uma quarta característica é a racionalidade, a ideia de que a verdade pode ser obtida através do uso da razão. Por fim, o progresso baseado no conhecimento, que permitirá melhorar a sociedade através de reformas racionais.
Pessoas de diversas orientações políticas, desde que defendam as características acima enunciadas, possuem e participam no espírito liberal. Apesar de podermos encontrar alguns traços desse espírito na pólis grega, o espírito liberal, tal como ainda o conhecemos, tem o seu advento no Iluminismo e na constituição de uma esfera pública burguesa em confronto com o Absolutismo. Era, claro, apanágio de uma minoria ilustrada, preocupada em substituir as relações sociais baseadas na violência por outras fundadas no diálogo tolerante e racional, o qual, supunha-se, geraria as melhores soluções para os problemas dos indivíduos e das sociedades. Acreditava-se – e talvez ainda exista quem acredite – que a educação iria alargar paulatinamente a participação nessa esfera pública racional e que o espírito liberal se estenderia a toda a sociedade.
A evolução política do Ocidente – o fenómeno Trump nos EUA, o crescimento da extrema-direita na Europa, em Portugal, do Chega – mostra que esse espírito de tolerância, liberdade e racionalidade está muito doente. Talvez seja vítima do seu próprio triunfo e também das suas ilusões. O liberalismo, enquanto tornava todos iguais em direitos, acentuava, na economia, grandes diferenças de rendimentos, o que fomenta reacções contra esse espírito. O triunfo do chamado neoliberalismo está a matar o espírito liberal. Por outro lado, a crença de que a educação da população iria alargar o espírito liberal a toda a sociedade parece ser uma ilusão, a qual se torna patente quando se olha a intervenção das pessoas nas redes sociais. O que impera hoje é o espírito de facção e não a tolerância, o pensamento mágico e não a racionalidade, a discriminação e não a igualdade de direitos, a desarticulação das instituições e não a reforma progressiva, o uso da liberdade para a liquidar. O espírito liberal parece viver um doloroso ocaso.
domingo, 31 de março de 2024
XIII L’escalier du diable
sexta-feira, 29 de março de 2024
Meditações melancólicas (93) Melancolia rural
Friedrich Christian Reinermann, Aldeia nas montanhas junto a um riacho |
quarta-feira, 27 de março de 2024
Comentários (17)
Odilon Redon, O Buda, 1896 |
segunda-feira, 25 de março de 2024
Nocturnos 116
Nuno Cera, Snapshots 4, 1997 |
sábado, 23 de março de 2024
XII Entrelacs
quinta-feira, 21 de março de 2024
Ensaio sobre a luz (115)
Mário de Oliveira, Paisagem, 1973 (Gulbenkian) |
terça-feira, 19 de março de 2024
Simulacros e simulações (61)
Maria Helena Vieira da Silva, Ermitages (Bleu Tressé), 1971 (Gulbenkian) |
domingo, 17 de março de 2024
Beatitudes (66) Música da noite
Ernst Ludwig Kirchner, Accordion Player by Moonlight, 1924 |
sexta-feira, 15 de março de 2024
A degradação da paisagem política
Não vale a pena comentar o caos em que as decisões de Marcelo Rebelo de Sousa lançaram o país. Também não vale a pena salientar que o nosso sistema semipresidencial é um problema, devido aos poderes arbitrários dos Presidentes da República. Vale a pena, porém, olhar para o país e para aquilo que estas eleições mostram. Em primeiro lugar, o tradicional centro político (CDS, PSD e PS), embora maioritário no país, já não chega aos 60%. Em 2022, os três partidos somados ultrapassavam ligeiramente os 70%. Uma radicalização que atingiu duramente os resultados do PS, mas que também paralisou o par CDS e PSD, que, como AD, têm mais ou menos a mesma percentagem de votos que em 2022. A rasura do centro é um preocupante sinal de degradação da vida democrática.
A paisagem política mudou radicalmente com os 18% do Chega. O seu crescimento exponencial é outro dado da radicalização do país. Não apenas por ser um partido populista, mas pelo facto de conseguir atrair o eleitorado não tendo qualquer consistência discursiva ou de atitude. Se compararmos o Chega com o Vox espanhol, percebemos de imediato uma diferença significativa. O partido espanhol é altamente estruturado, tanto do ponto de vista ideológico como do comportamento das suas lideranças. O partido português chega a uma votação significativa apenas fundado nas diatribes de André Ventura, no comportamento desrespeitoso perante os adversários políticos, as instituições democráticas da República e os grandes valores do 25 de Abril. Na prática, os eleitores não fazem ideia de quais são as políticas substantivas do Chega. Mesmo assim votam nele, como se houvesse um desejo de destruição, a começar na destruição do PSD – um dos objectivos de Ventura – e a seguir da democracia tal como a entendemos.
Outro sinal da radicalização da nossa
sociedade é a erosão do Partido Comunista. É preciso compreender o papel
central que este partido tem tido no equilíbrio do sistema político. Não tanto
no jogo parlamentar, embora também aí tenha tido papel de relevo, mas no jogo
social, onde o papel do PCP nos sindicatos tem sido central para evitar
contestações anárquicas do regime e tem servido de escape aos sentimentos
negativos que podem atingir parte da população. Neste momento, existem já
movimentos de contestação inorgânicos, que não obedecem a qualquer
racionalidade política, os quais são uma ameaça para a saúde da democracia. A
erosão parlamentar do PCP e a do movimento sindical, que dificilmente será
travada, é um outro sintoma de degradação da paisagem política no momento em
que a transição à democracia faz 50 anos.
quarta-feira, 13 de março de 2024
XI En suspens
segunda-feira, 11 de março de 2024
A tal maioria sociológica de direita
Umberto Boccioni, Agitate Crwod Surrouding a High Equestrian Monument, (1908) |